domingo, 7 de julho de 2013

Paradoxo surrealista

“Certamente, desde as primeiras conquistas surrealistas deveríamos ter-nos
perguntado se o abandono à imaginação associativa não precisava ser ultrapassado. Alguns
dentre nós, mais tarde, responderam pela afirmativa. O perigo do automatismo é, sem dúvida
alguma, o de muitas vezes associar apenas relações não-essenciais e cujo conteúdo, dizia
Hegel, “não ultrapassa o que está contido nas imagens”. É justo acrescentar, entretanto, que
se na pesquisa filosófica a lei capital é desconfiar da associação das idéias, o mesmo não
ocorre na criação artística, que é, por essência, intuição sensível. O processo das imagens, o
pasmo ou a angústia do encontro abrem uma via rica em metáforas plásticas: um fogo na neve.
Daí sua atração e sua fragilidade: satisfazer-se com excessiva facilidade e afastar-se ao
mesmo tempo do número e do conhecimento tátil do mundo. [...] Por volta de 1930, cinco anos
após a fundação do surrealismo, aparecia em seu seio um flagelo temível: a demagogia do
irracional. [...] Pobre conquista, essa do irracional pelo irracional; triste imaginação, essa que já
não associa senão elementos usados, na verdade, pela morna razão.”

André Masson

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