Ao imputar o status de Real a um Outro específico, sustenta-se o sonho da realização holística - mediante a eliminação, a expulsão ou a supressão desse Outro.
A ideologia não apenas constrói uma certa imagem de realização, mas também se esforça por regular certo distanciamento dela. Por um lado, temos a fantasia ideológica de nos reconciliarmos com a Coisa (da realização total), mas, por outro, temos a ressalva implícita de não nos aproximarmos dela em demasia. A razão (lacaniana) disso é clara: quando nos aproximamos demais da Coisa, ela despedaça/ evapora (como os afrescos da Roma de Fellini), ou provoca uma angústia e uma desintegração psíquica insuportáveis.
Como afirma Zizek nesse livro, além da operação ideológica prima facie de traduzir a impossibilidade num obstáculo externo, há ainda um estágio mais profundo nessa operação, qual seja, a "própria elevação de algo à impossibilidade, como maneira de adiar ou evitar o encontro com ele". A ideologia é o sonho impossível, não apenas em termos de superar a impossibilidade, mas em termos de sustentá-la de uma forma aceitável. Ou seja, a idéia de superação é sustentada como um momento adiado de reconciliação, sem que seja preciso passar pela dor da superação como tal.
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